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Como um jogo de celular ensina sobre direitos de migrantes e refugiados

Criado pelo Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (Cami), Mira Certa convida pessoa a pensar sobre direitos enquanto completa missões

Rafael Ciscati

4 min

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A menina Carminha tem um balão e pode te levar numa viagem por um mundo sem fronteiras. Mas a passagem não é gratuita: para garantir que terá lugar nessa jornada, você precisa, primeiro, completar um série de desafios: responder perguntas sobre a legislação trabalhista brasileira, refletir sobre os direitos de refugiados e migrantes e aprender sobre o combate ao trabalho análogo à escravidão. 

A viagem de Carminha em seu balão fantástico é o mote do jogo “Mira Certa”. Desenvolvido pelo Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (CAMI), o aplicativo quer educar sobre direitos humanos de forma lúdica (e atraente aos olhos de crianças e adolescentes). O jogo, disponível na Google Play, foi criado com o apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos, mesma organização que mantém Brasil de Direitos. 

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A ideia de criar o Mira Certa surgiu a partir do cotidiano de trabalho do Cami. Há mais de 15 anos, a organização atua em prol da população de migrantes e refugiados que vivem na cidade de São Paulo. Em muitos casos, são pessoas recém-chegadas ao país, que precisam de orientações sobre como acessar o sistema de saúde, regularizar documentos ou para aprender sobre a legislação trabalhista brasileira. Os problemas que enfrentam afetam também seus filhos. “Há muitas famílias que trabalham em oficinas de costura. E cujas crianças correm o risco de sofrer acidentes porque acompanham os pais nesses ambientes”, diz Carla Aguilar, do Cami. “O jogo foi a maneira que encontramos de falar, a pais e filhos, sobre as garantias a que também as crianças têm direito”. 

Para avançar na brincadeira, o jogador precisa completar missões: responder perguntas que levam a pensar sobre os direitos dos trabalhadores, e os deveres do empregador. A cada acerto, a pessoa fica mais perto de embarcar no balão de Carminha. “Esteban foi contratado como trabalhador intermitente, só indo trabalhar quando o chefe chama. Mesmo assim, ele tem direito ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), à previdência e 13º proporcionais. Isto está correto?”, desafio o jogo, antes de explicar que, segundo a reforma trabalhista aprovada em 2017, Esteban tem sim direito  a essas garantias. “A proposta é colocar a pessoa em contato com situações trabalhistas e pedir que ela indique se aquela conduta é legal (correta) ou ilegal”, diz Carla.

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Elaborar o Mira Certa exigiu algumas idas e vindas. Carla explica que, antes de virar aplicativo para celulares, o jogo era analógico. “Para criar o jogo físico, fizemos vários encontros e testes. Queríamos que ele fosse construído com base nas nossas experiências”, diz Carla. Nesse processo, o Cami contou com uma parceria com a Fast Food da Política, uma empresa especializada em criar jogos educativos sobre política. O resultado, diz Carla, foi positivo. “O jogo foi pensado para crianças imigrantes. Mas as brasileiras também gostaram de jogar”. 

Já a versão digital tomou mais um ano de trabalho da equipe. Para facilitar a experiência de quem joga, o Cami decidiu criar uma personagem que servisse de guia ao jogador. Foi assim que surgiu Carminha: uma menina cadeirante que contraiu poliomelite na infância. “Ela é baseada em uma pessoa real, que conhecemos”, diz Carla. “O jogo foi desenvolvido no meio da pandemia de covid-19. Além de valorizar a diversidade, entendemos que ele precisava destacar, mesmo que de forma sutil, a importância da vacinação”, diz Carla. Pelo menos desde 2015, a cobertura vacinal contra poliomelite cai no Brasil, e a doença voltar a assombrar os brasileiros. 

Carla conta que, depois de lançar o Mira Certa, o Cami tomou gosto pela área dos jogos digitais. Em 2023, a organização pretende lançar outros dois aplicativos. O primeiro falará do combate ao trabalho escravo e ao tráfico de pessoas. O segundo deve falar sobre violência contra a mulher. “Isso tudo é muito novo e desafiador para nós”, conta Carla. “Mas sabemos que os jovens passam muito tempo no celular. E eles adoram esses jogos”.

 

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