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Chacina do Curió: 33 policiais vão a júri por chacina em Fortaleza

Em 2015, um grupo de policiais matou 11 pessoas na periferia de Fortaleza. Desde então, mães e familiares das vítimas lutam para levar seus assassinos à Justiça

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Na terça-feira, 20 de junho, quando quatro dos 33 policiais acusados de 11 mortes pela Chacina do Curió entrarem no tribunal em Fortaleza, estará começando o maior julgamento de violência policial dos últimos anos no Brasil. Outros dois júris já estão marcados para os meses de agosto e setembro. Há quase oito anos, o Movimento de Mães e Familiares do Curió trava uma luta diária por justiça.

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O crime foi terrível: nossos filhos e companheiros foram brutalmente executados, de modo aleatório, em um intervalo de três horas na madrugada de 11 para 12 de novembro de 2015, na Grande Messejana, periferia de Fortaleza. Onze pessoas foram mortas. Outras sete sobreviveram com sequelas. E se fosse o seu filho?

A  investigação aponta que a polícia matou indiscriminadamente como forma de retaliação: queria vingar a morte de um agente, ocorrida naquela mesma data. Nenhuma das vítimas da chacina, no entanto, tinha qualquer relação com a morte do policial. E ainda que tivessem — não cabe à polícia o papel de executar sentenças de morte. 

O julgamento do Caso Curió pode vir a ser um dos maiores casos de responsabilização de violência policial no Brasil e a condenação pode representar um caso exemplar. Isso porque historicamente o Brasil não responsabiliza crimes cometidos por militares, nem permite reparação de direitos às vítimas, ao mesmo tempo em que não promove reformas nas polícias.

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Chegamos a este momento, depois de anos em que dor e luto se transformaram, dia após dia, em luta. Muitos chamam de “bandido” pessoas pobres, pretas e da periferia mortas pela polícia, mas estamos aqui para dizer que todas elas tinham família, lar, sonhos e trajetórias de vidas que foram interrompidas. 

Cada vida importa! É por isso que seguimos dizendo em alto e bom som o nome de cada um deles, para não serem esquecidos:

Álef Souza Cavalcante, 17 anos; Antônio Alisson Inácio Cardoso, 16 anos; Francisco Enildo Pereira Chagas, 41 anos; Jandson Alexandre de Sousa, 17 anos; Jardel Lima dos Santos, 17 anos; Marcelo da Silva Mendes, 17 anos; Marcelo da Silva Pereira, 17 anos; Patrício João Pinho Leite, 17 anos; Pedro Alcântara Barroso, 18 anos; Renayson Girão da Silva, 17 anos; e Valmir Ferreira da Conceição, 37 anos.

A vida das famílias que lutam por memória e justiça é acompanhada de diversos sentimentos. Vivemos há quase 8 anos o vazio de nunca mais poder ver chegar em casa quem teve sua vida tomada pela brutalidade de servidores públicos pagos para nos proteger. O acolhimento dado por movimentos sociais que possibilitam auxílio jurídico e psicossocial, e de movimentos de mães de todo o Brasil, nos fortaleceu. Mas muitas foram as portas que encontramos fechadas.

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Temos a esperança de que será feita a justiça de Deus no tribunal do júri. Acreditamos que a responsabilização dos réus servirá de exemplo para que outras famílias não sofram o que sofremos. Por fim, temos o sentimento de que segue vivo em nós e no mundo aqueles por quem lutamos.

Não fomos as primeiras nem as últimas vítimas de violência policial no Brasil. Mas nos somamos a diversos movimentos de mães vítimas do terrorismo do Estado e, articuladas, tentamos mudar essa realidade. De um abraço e uma escuta para uma mãe em luto, à uma ação na justiça em busca do que nos é direito: memória, justiça e reparação. É preciso acabar com a violência sistemática da polícia brasileira que se dá de diversas formas, de abordagens violentas a execuções.

Acreditamos que criar uma memória sobre o que aconteceu e responsabilizar quem cometeu a violência é um avanço para a garantia de direitos no país. Para isso, precisamos do apoio de toda a sociedade brasileira para cobrarmos em uma só voz: #JustiçaPeloCurió

 

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