Na prisão, mulheres perdem vínculo com a família: “em três anos, não vi o rosto do meu filho”
Episódio do podcast Cola na Grade discute a solidão das mulheres encarceradas. Encarceramento feminino ainda é problema invisível.

Redação Brasil de Direitos
3 min

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Dos três anos que passou presa, Helen Baum conta que sua lembrança mais marcante é a das saudades que sentiu. Usuária de crack, Helen foi presa sob a acusação de tráfico de drogas. A prisão tirou dela a liberdade de ir e vir e a chance de ver crescer o próprio filho, na época, um adolescente. Na prisão, ela recebia visitas da mãe. Mas não quis que o filho a visitasse, por medo de o menino ser submetido a uma revista vexatória. “Quando fui presa, meu filho era um adolescente. Quando saí, encontrei um homem adulto, que fazia faculdade”, conta. Aos olhos dele, Helen era uma desconhecida.
A dor que ela sentia se assemelhava a de suas companheiras de cela. Elas eram, na maioria, mulheres negras e pobres. Tinham sido presas por delitos relacionados a drogas. Uma vez na prisão, recebiam poucas ou nenhuma visita. “Lembro de uma companheira minha que recebeu a notícia de que os filhos dela iam para a adoção. Ela urrava de dor dentro da cela. Isso afeta muito a nossa sanidade.”
A solidão das mulheres encarceradas é uma das discussões do quarto e último episódio do podcast Cola na Grade. Apresentado por Maurício Monteiro – o Prisioneiro 84901 – o Cola na Grade é uma realização do Instituto Resgata Cidadão, uma organização que questiona as políticas de encarceramento postas em prática no Brasil. A atração é produzida com apoio do Fundo Brasil, mesma instituição que financia Brasil de Direitos.
Prisão de mulheres é problema invisível
Apesar de o número de mulheres presas ter disparado nos últimos anos, o encarceramento feminino é um tema ainda invisibilizado. “Em parte, porque há menos mulheres presas do que homens”, explica Fernanda Matsuda, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e uma das convidadas do episódio. Mas a questão não é somente numérica.
Fernanda lembra que, nesse processo de invisibilização, pesam também questões de gênero e raça. Mais de 60% das mulheres presas são negras. A maioria, tal qual Helen, foi presa por delitos relacionados a drogas. Uma vez na prisão, vivenciam um cotidiano de privações, abusos e solidão. “A prisão imputa às pessoas presas a violação de praticamente todos os direitos”, diz Fernanda. “As pessoas perdem vínculo com família e comunidade. As famílias abandonam as mulheres, numa frequência maior do que acontece com os homens”.
Você pode acompanhar a conversa entre Helen e Fernanda pelo Youtube ou no canal do Irec no Spotify.
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