Eleições: 3 livros que ajudam a pensar a democracia brasileira
Obras analisam a ascensão de novos atores, a relação entre raça e eleições e o espaço ocupado por grupos religiosos na política

Rafael Ciscati
5 min

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O relevo eleitoral brasileiro mudou nos últimos anos. Houve notícias boas: como o aumento no número de pessoas negras concorrendo a vagas nos legislativos municipais. Nas eleições de 2024, por exemplo, candidatos negros e negras correpondem a 53% dos concorrentes.
E houve notícias preocupantes, como a escalada da violência política durante as disputas. Pesquisa recém divulgada pela organização Terra de Direitos aponta que, entre janeiro e 15 de agosto deste ano, foram registradas 145 agressões a candidatos e candidatas. Um aumento de 130% em comparação às eleições de 2020.
Mudou também o perfil de quem concorre e de quem se elege: atores do campo evangélico ganharam relevância nas disputas; cresceu o número de candidatos oriundos das forças de segurança pública, como policiais civis e militares.
Quais as consequências dessas movimentações para o país?
Abaixo, Brasil de Direitos seleciona três obras que se debruçam sobre o cenário eleitoral brasileiro. São publicações recentes, lançadas a partir de 2020. Às vésperas das eleições municipais de 2024 — cujo primeiro turno acontece no próximo domingo, 6 de outubro — elas nos convidam a pensar sobre a democracia no Brasil: a que temos e a que queremos.
Boa leitura.
>>Leia também: partidos políticos não discutem o combate ao racismo, diz pesquisador
Raça e eleições no Brasil
Luiz Augusto Campos e Carlos Machado. Editora Zouk
Por quase uma década, os cientistas políticos Carlos Machado e Augusto Campos se debruçaram sobre a dinâmica eleitoral brasileira para entender os mecanismos que dificultam — ou mesmo impedem — a eleição de candidatos e candidatas negros e negras. O conjunto dessas pesquisas foi condensado no volume Raça e Eleições no Brasil. Publicado no final de 2020, o livro pretendia preencher uma lacuna diagnosticada pelos autores: apesar de haver, no Brasil, vasta produção acadêmica sobre democracia representativa, pouco se fala sobre como o racismo interfere nos processos eleitorais.
Os achados da dupla sugerem que há uma distribuição desigual de candidaturas negras entre os partidos. De maneira geral, elas tendem a se concentrar nas legendas de pequeno porte: justamente aqueles que têm menos acesso a recursos e que oferecem a esses candidatos piores condições para a disputa. Já nos partidos de grande porte, o mais comum é que os caciques prefiram apostar em candidatos que, segundo seus critérios, reúnam os atributos de um político típico, com maiores chances de se eleger: tradicionalmente, homens brancos e de classe social mais abastada.
Há pressão, dentro das legendas, para que isso mude: “Ainda assim, não identifico um partido que de fato mobilize essa discussão de combate ao racismo”, disse Machado à Brasil de Direitos em 2020.
Estamos prontas – lições de mulheres negras lideranças coletivas nas eleições brasileiras
Fabiana Pinto e Tainah Pereira (organizadoras)
Em 2022, o Movimento Mulheres Negras Decidem e o Instituto Marielle Franco se uniram em uma iniciativa que pretendia incentivar mulheres negras à concorrer no pleito daquele ano. Batizado de Estamos Prontas, o projeto oferecia atividades de formação a lideranças populares, de modo a prepará-las para entender o sistema eleitoral. Contamos parte dessa história aqui na Brasil de Direitos.
O saldo dessa experiência aparece reunido, agora, em livro. Publicado com o apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, Estamos prontas é um misto de “manual de tática e livro de memórias” – como define a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, logo no texto de abertura. Em 2022, ela estava à frente do instituto que leva o nome da irmã.
“As protagonistas deste livro são, acima de tudo, mulheres que compreendem e atuam na mudança de suas realidades locais”, afirmam Fabiana Pinto e Tainah Pereira, organizadoras da publicação. O volume está disponível online.
>>Leia também: violência política – guia traz orientações de como se proteger
Webdossiê: Religião, Democracia e a Extrema Direita
Chistina Vital da Cunha e Marilena Paula (organizadoras). Fundação Heinrich Böll e Instituto de Estudos da Religião (Iser).
Pelo menos desde 2013, cresce a participação de grupos religiosos na política institucional brasileira. A atual legislatura do Congresso Nacional, por exemplo, reúne 14 senadores e 132 deputados que se declaram evangélicos – e que mobilizam valores religiosos ao falar com seu eleitorado ou justificar decisões. “A discussão sobre as dinâmicas políticas no Brasil passa hoje por olhar também os religiosos cristãos, principalmente evangélicos e católicos, suas preferências, seus discursos e práticas nas relações sociais com outros representantes da sociedade” diz Marilene de Paula na abertura desta coletânea de artigos. Ao longo de nove textos, a coletânea busca entender o significado da ascensão de lideranças religiosas para a democracia brasileira.
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