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Em Altamira, coletivo de grafite combate preconceitos e ocupa espaço urbano

Rafael Ciscati

Maria Edhuarda Gonzaga *

3 min

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Adelia Luiz Moreira conta que desenha desde que se entende por gente. Na infância, sua arte ilustrava cadernos escolares. Hoje, as pinturas de Adelia podem ser vistas por todos que circulam pelas ruas da cidade de Altamira, no Pará.

Desde 2018,  a ativista amazônida participa do ColorAfro Xingu. O coletivo foi criado em 2017, e reúne cerca de 10 membros fixos, além de outros participantes flutuantes. Por meio de oficinas de grafite, lambe-lambe e outras formas de manifestação visual, o grupo estimula a juventude de Altamira a fazer arte, questionar o racismo e se apropriar do espaço urbano.

Adelia conta que, antes de entrar para o ColorAfro, ela nunca tinha trabalhado com esse tipo de arte urbana. Hoje, assina seus murais com o pseudônimo “Manga Rosa”. Mais que um nome artístico, ela explica que Manga Rosa é sua segunda identidade: a persona pela qual quer se tornar conhecida na cena do grafite da cidade. O nome surgiu de suas andanças por Altamira. “A cidade tem muitas mangueiras. Quando florescem, elas ficam lindíssimas”, comenta.

Ela explica que qualquer pessoa pode participar do coletivo. As oficinas que o grupo organiza são espaços de experimentação: os artistas chegam a produzir os próprios materiais de trabalho. Inclusive a tinta que colore os muros, feita a partir de látex e pigmentos naturais.

Essa liberdade para experimentar também garante ao grupo liberdade de reflexão. Os artistas decidem, em conjunto, os temas dos grafites que serão feitos. O primeiro mural pintado por Adelia, ela ainda lembra, pedia respeito às travestis. Desde então, ela e os colegas buscam politizar sua arte. “É muito bacana criar no espaço público. A pessoa passa, vê o grafite, e isso já planta uma sementinha de reflexão”, diz ela. “Tento expressar isso nas minhas criações. Refletir sobre temas que envolvam a produção das cidades e as mudanças climáticas. Para estimular as pessoas a estar ligadas nesses temas”.

Seus grafites costumam abordar  desigualdades raciais e o preconceito sofrido por pessoas transexuais. Caso da própria Adelia, uma artista travesti. “Acho que minha presença no grupo tem algo de revolucionário”, conta a ativista. “Antigamente, a cena da arte urbana de Altamira era muito dominada por homens heterossexuais. Hoje, isso está mudando”. A arte de rua, diz, expõe os artistas de maneira positiva. “As pessoas passam na rua, veem a arte e querem conversar. Gosto dessa conexão”, diz ela. “Ajuda a quebrar preconceitos”.


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