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Em Belém, um jovem negro usa a dança para encontrar seu lugar no mundo

Redação Brasil de Direitos

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A professora Lilia Melo ainda se lembra da fama que o jovem KW tinha quando era estudante do ensino fundamental. Entre as demais professoras, o adolescente era conhecido como um “aluno problema”: ativo, arteiro e desatento. Em sala de aula, o rapaz sentava de lado na carteira, caderno sobre o colo, fones de ouvido nas orelhas. 

Preocupada, Lilia tentava aconselhá-lo: recomendava que KW levasse os estudos mais a sério. E que dedicasse pelo menos uma hora, todos os dias, para revisar as matérias vistas em aula. “Sente-se com o caderno sobre a mesa e estude”, dizia sempre. 

Assim foi até o dia em que Lília visitou KW em casa. Na periferia de Belém (PA), o menino morava com a família em uma casa de madeira às margens de um rio. A residência tinha somente dois cômodos: e nenhuma mesa onde KW pudesse estudar. Em dias de chuva forte, a água do rio entrava em casa. Do lado de fora, tocava alto o som da música brega que fazia sucesso na vizinhança, e que invadia a casa de KW todos os dias, o dia inteiro, do começo da manhã até às 5h da madrugada. Em dias de prova, era esse também o horário em que KW saía da cama: tentava aproveitar aqueles raros minutos de silêncio para estudar. Os fones de ouvido, que não saíam das orelhas, eram um refúgio. Uma forma de escapar da barulheira para se concentrar. 

“Quem olhasse para mim, via um vazio. Porque eu não tinha futuro” lembra KW no segundo episódio do PapoCast. No programa, conduzido pela professora Lília Melo, jovens moradores da periferia de Belém falam sobre arte, e sobre a importância da arte para as suas vidas. 

Recém-saído do ensino médio, KW conta que foi na dança que se encontrou. A descoberta aconteceu durante as atividades conduzidas pelo Cineclube Terra Firme, projeto criado por Lília em parceria com os alunos. O projeto incentiva os jovens a fazer arte nos mais variados suportes: música, cinema, grafite, poema, dança. Encadeando um passo no outro, KW conta que se descobriu artista: “Percebi que se eu pegar um movimento aqui, e puxar pra cá, eu me encaixo na música” lembra, sorrindo. “Descobri que sou um dançarino. Meu corpo fala por si só”.

O rapaz se tornou coordenador de dança do Cineclube TF. O sucesso foi tamanho que sua história virou filme. A trajetória de KW é contada no documentário “O Pulsar do corpo preto”, produzido pelo próprio CineClube. 

Hoje, o jovem que não via futuro diz querer inspirar outros garotos. E sonha ir longe. “Eu sou que nem foguete. Quanto mais alto, melhor”. 

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