Povos indígenas
Em menos de duas semanas, três casas de guarani-kaiowá foram queimadas. Trator blindado é usado para destruir cultivos dos indígenas

Povos indígenas
Em Dourados, Guarani-Kaiowá vivem crise humanitária, afirmam especialistas
Em menos de duas semanas, três casas de guarani-kaiowá foram queimadas. Trator blindado é usado para destruir cultivos dos indígenas
"Reservas" são, juridicamente e na prática, diferentes de "terras indígenas". As terras indígenas, cuja demarcação é um dever do Estado brasileiro, estabelecido na Constituição Federal de 1988, devem ter tamanho suficiente para garantir a sobrevivência desses povos e de suas culturas. No caso das reservas, não havia esse compromisso. Pequena, a reserva de Dourados não dispõe de terra capaz de garantir o cultivo de alimentos para todos os moradores. Buscando lugar onde plantar, grupos de guarani-kaiowá deixaram a reserva e se estabeleceram no seu entorno, em áreas de retomada: acampamentos improvisados, montados em territórios de ocupação tradicional. Nesses locais, os indígenas ficam vulneráveis a ataques. "O que acontece em Dourados é uma crise humanitária", afirma Machado.

Hoje, os Guarani-Kaiowá demandam que seu território tradicional seja demarcado. A cobrança esbarra em um nó fundiário: ao longo do final do século XIX e do início do século XX, os governos estadual e federal concederam títulos de posse dessas terras a fazendeiros, como uma forma de estimular a colonização da região e de expulsar a população indígena. Já de saída, esse quadro desenhado pelo Estado torna a demarcação de terras no Mato Grosso do Sul mais demorada e custosa. Há anos, o processo não avança. "A última novidade foi a criação de grupos de trabalho, em 2007, para discutir a demarcação", conta Machado.
Nas cidades da região, os guarani-kaiowá são marginalizados e alvo de preconceito; "Dizem que os indígenas não querem produzir, que não querem trabalhar. Mas não há terra para cultivar. A demanda pela demarcação é antiga, de décadas", conta o antropólogo Benites. "Enquanto isso, as pessoas vivem na miséria. Não há casa ou comida. Já houve mortes por desnutrição", afirma.
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