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Festival na Baixada Fluminense quer alargar imaginário sobre segurança pública

Rafael Ciscati

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O historiador Fransérgio Goulart lembra que se emocionou ao final do 1° Festival de Audiovisual Negritude da Baixada (FAN). O evento, organizado em 2019 pela Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR) — que Goulart coordena — reuniu cineastas, fotógrafos e toda uma gama de artistas atuantes na Baixada Fluminense. A ideia era mostrar, por meio de filmes e fotos, a diversidade cultural da região, e registrar as memórias afetivas de quem vive na Baixada. O filme vencedor do festival falava das vivências de pessoas LGBTQIA+. “E para o realizador do curta, ser reconhecido na Baixada, onde ele vivia e filmava, tinha um significado importante”, diz Goulart, relembrando o momento da premiação. 

Quatro anos e uma pandemia depois, o FAN retorna à Baixada para a sua terceira edição. Dessa vez, a intenção é debater um tema espinhoso: Violência Policial e Memórias das Resistências. O evento é prioritariamente direcionado aos trabalhos de pessoas negras.  Interessados em participar podem inscrever suas produções no site da IDMJR até o dia 15 de julho. Além de fotos e podcasts, serão aceitos curta-metragens com até 20 minutos. Pela primeira vez, há também uma categoria de tema livre, na qual podem ser inscritos filmes com até 15 minutos de duração. 

Tal qual na primeira edição, Goulart explica que a grande ambição da mostra é destacar o trabalho de artistas e cineastas atuantes na Baixada. “A Baixada Fluminense tem um movimento de produção audiovisual forte, com alguns cineclubes funcionando há mais de 20 anos”, conta Goulart. “Mas essa produção fica invisibilizada em relação ao restante do estado. Queremos destacar o protagonismo desses produtores pretos”. 

Para alargar percepções

De quebra, a mostra tenta, também, estimular a construção de novos imaginários sobre segurança pública. Já há algum tempo, a IDMJR recorre a suportes audiovisuais para qualificar esse debate, inclusive com produções próprias. Em 2021, o grupo lançou seu primeiro filme. Em Nossos Corpos são Nossos Livros, dirigido pela cieneasta Janaína Refém, o grupo lança luz sobre o fenômeno dos desaparecimentos forçados, que ocorrem na Baixada desde os tempos da Ditadura Militar. Em 2022, lançaram Guerra aos Pretos, que trata da atual política de drogas como um instrumento de extermínio da população negra. 

>>LEIA TAMBÉM: Desaparecimentos forçados — documentário discute crime praticado pelo Estado

Na avaliação de Goulart, as produções audiovisuais têm o mérito de aproximar a audiência de uma conversa difícil. “São ferramentas de acesso rápido. E, no caso dos nossos filmes, trazem a perspectiva da Baixada Fluminense”, diz o historiador. “As pessoas se interessam porque se enxergam na tela”. 

Festival marca aniversário do grupo

A realização do FAN também marca o início das comemorações pelos cinco anos de trabalho da IDMJR. Desde 2018, o grupo reúne ativistas dedicados à combater a violência de Estado. Um fenômeno que se manifesta de diferentes maneiras mas que, na Baixada Fluminense, costuma assumir a forma da brutalidade policial. 

Goulart brinca que, fossem transformados em filme, os últimos cinco anos da IDMJR contariam uma história de “dor e resistência”. “É um filme em que a gente apresentaria a IDMJR como a primeira organização da Baixada Fluminense a chegar ao Supremo Tribunal Federal”, comemora. “Hoje, nossa atuação é reconhecida por boa parte das organizações de direitos humanos do campo da segurança pública. É um filme bacana”. 

Para quem quiser acompanhar, os filmes da terceira edição dos FAN serão exibidos no dia 29 de julho, no Instituto Enraizados, em Nova Iguaçu.

Serviço

3° Festival Audiovisual Negritude da Baixada (FAN)
Inscrições pelo site da IDMJR
Exibições – 29 de julho, no Instituto Enraizados, Nova Iguaçu.

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