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Moda avança em transparência sobre ações ambientais, mas fala pouco sobre direitos humanos

Pesquisa do Instituto Fashion Revolution Brasil mostra que, entre 2018 e 2023, mais empresas passaram a divulgar quanto gás carbônico emitem. Mas minoria torna públicos dados sobre o que acontece na cadeia de fornecimento

Rafael Ciscati

5 min

Máquina de costura (foto: Paulo Pinto/ Agência Brasil)

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Nos últimos cinco anos, a indústria da moda no Brasil avançou no quesito transparência: mais empresas passaram a contar para os consumidores quanto gás carbônico suas atividades emitem, e aumentou o número de marcas que divulgam quem são seus fornecedores. 

O setor ainda patina, no entanto, conforme o olhar se afasta da atividade central das grandes empresas: poucas marcas divulgam quais são seus planos (ou mesmo se eles existem) para promover igualdade racial na cadeia de fornecimento;  ou dados detalhados sobre violações trabalhistas, como casos de trabalho análogo ao escravo, cometidas pelos seus fornecedores. 

As conclusões constam no Índice de Transparência da Moda Brasil – edição comparativa,  uma análise conduzida pelo Instituto Fashion Revolution Brasil e lançada na quinta-feira (7).  

Desde 2018, a organização avalia quão transparentes são as práticas das principais marcas do mercado de moda em atividade no país. Os dados são colhidos por meio de um questionário que o Fashion Revolution envia para as 60 maiores empresas — quando começou, em 2018, a pesquisa consultava somente 20. O escopo do trabalho cresceu aos poucos, com a adição de 10 empresas por ano.

>>Leia também: moda avança no combate a violações, mas falta transparência

Os resultados anuais funcionam como um termômetro que indica para onde a indústria caminha em termos de preocupações socioambientais: “Transparência não é o mesmo que sustentabilidade”, diz Isabella Luglio, coordenadora do projeto. “Mas é um primeiro passo para chegar lá”.

A edição comparativa, publicada nesta quinta-feira, lança um olhar para o passado, para entender o que mudou ou permaneceu desde que o trabalho começou a ser publicado.  Destaca quatro temas-chave: meio ambiente, direitos humanos, governança e rastreabilidade,

Há notícias boas:  o índice geral de transparência avançou cinco pontos percentuais, passando de 17% em 2018 para 22% no ano passado. O avanço maior aconteceu entre as empresas que participam da pesquisa desde a primeira edição.

Houve melhoras significativas na área ambiental: aumentou o número de empresas que divulgam suas emissões de  gases de efeito estufa. Elas eram 17% em 2019, passaram a 45% em 2023. Cresceu também, de 10% para 40%, o número de marcas que divulgam listas de fornecedores. 

Reprodução: Instituto Fashion Revolution Brasil

Reprodução: Instituto Fashion Revolution Brasil

Esse progresso é reflexo de mudanças sociais e no ambiente regulatório. “O cenário que existia em 2018 não existe mais. Na época, as empresas podiam escolher ser transparentes ou não. Hoje, EUA e Europa têm legislações que obrigam a indústria a avançar nesse sentido. E quem não o faz, fica para trás”, avalia Isabella. 

É um sinal também, diz ela, de que um primeiro impulso a favor da transparência tende a estimular ações futuras. “Uma vez que a empresa se engaja na transparência, isso tende a evoluir”, diz Isabella. 

 

Falta transparência em relação a direitos humanos

A equipe da pesquisa, no entanto, aponta que o progresso ainda é lento.

Houve pouca mudança, por exemplo, no sentido de  divulgar o que as empresas fazem para combater violações aos direitos humanos.  O trabalho sugere que poucas marcas acompanham e divulgam o que acontece na cadeia de fornecimento. 

O tema é especialmente importante em um setor cujas atividades costumam ser bastante pulverizadas: é comum que uma grande marca contrate serviços de diversas pequenas confecções, que ficam responsáveis pela costura das peças. Pequenas e microempresas assumem outras etapas da produção, como a lavagem ou corte dos tecidos. A fragmentação abre espaço para terceirizações e quarteirizações: e dificulta a fiscalização ao longo do processo de produção. 

A pesquisa mostra que a maioria das empresas (58%) têm políticas que proíbem a contratação de fornecedores que flagradas explorando trabalho escravo contemporâneo. Mas somente 20% delas publicaram dados detalhados sobre o tema em 2023. Em 2020, quando perguntas sobre o assunto foram incluídas no questionário pela primeira vez, elas eram 15%. 

 

Dentre os temas analisados pelo Índice, o que apresentou menor crescimento em transparência ao longo dos anos foi a divulgação de informações sobre salários justos ao longo da cadeia de fornecimento. A pontuação média das marcas nesses indicadores passou de 3% em 2022 para 6% em 2023.

O problema se repete no campo do combate ao racismo: a minoria das marcas (somente 3% em 2023 frente a 2% no ano anterior) divulgam ações de promoção da igualdade racial e étnica nas instalações dos seus fornecedores. 

Além disso, em seis anos, nenhuma empresa forneceu informações sobre disparidades salariais entre empregados brancos e não-brancos. 

Outro problema é o número significativo de empresas que zeram na pesquisa: 16 marcas, num universo de 60, não divulgam ações de caráter socioambiental. Isso não quer dizer que elas não promovam atividades na área, explica Isabella. Por diferentes razões, escolhem não ser transparentes em relação ao que fazem. 

Isabella aponta que dois fatores podem mudar esse quadro: a pressão dos investidores e a aprovação de legislações mais exigentes. “Por fim, é preciso engajar essas empresas que zeram, e empurram a média para baixo”. 

A pesquisa completa está disponível online.

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