Nesse 8 de março, precisamos seguir os passos de Marielle
No pior momento da pandemia no Brasil, o legado da vereadora assassinada nos ensina que devemos cobrar mudanças e agir
Maria Teresa Ferreira
5 min
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Chegamos a mais um dia 8 de março. Chegamos a mais um mês em que as pautas femininas e feministas encontram lugar de destaque e centralidade entre os assuntos do cotidiano. Chegamos a mais um 8 de março em plena pandemia do novo coronavírus.
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Sendo mais exata, vivemos nesse 8 de março o pior momento da pandemia desde que ela começou há cerca de 1 ano. Chegamos até aqui mais uma vez com o compromisso de ratificar a luta das mulheres pela autonomia sobre seus corpos, reafirmar a autenticidade desses corpos nas suas especificidades, garantir sua autonomia e principalmente a urgência da sua emancipação.
Esse março não pode ser de tristeza. Ele deve ser um marco na luta das mulheres. Estamos no momento de pensar no que mais no atinge nesse momento, enquanto mulheres e, e em especial, enquanto mulheres negras.
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O mês de março é também o mês em que, há 3 anos, Marielle Franco foi morta. Ele nos faz lembrar que esse crime ainda não foi elucidado, os culpados não foram julgados nem os mandantes presos. O mês de março nos lembra o nosso compromisso em exigir que esse caso seja resolvido pela justiça, com a prisão dos culpados.
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Diante disso, uma pergunta me vem à cabeça com muita força:
– O que faria Marielle nesse momento? Quais as ações ela estaria organizando, encabeçando e executando? Seja na Maré, onde ela vivia, seja na câmara municipal, onde ela era vereadora, seja nos diversos movimentos em que ela se organizava em favor da vida das mulheres, principalmente da vida as mulheres negras, que são as mais prejudicadas, as que tiveram suas vidas mais atravessadas pela pandemia.
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Esse 8 de março, além da cobrança da resolução de um crime, traz o compromisso de materializar o legado de Marielle em nas nossas vidas. Empregar em nosso cotidiano sua força, seu exemplo de trabalho e compromisso com as mudanças exigidas pelo tempo presente.
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Me pergunto o que ela faria. E, dentro da minha pequenez, fico me perguntando o que eu posso fazer. O que fazer nesse momento em que minhas irmãs, minhas iguais passam por situações tão complexas? Chego à conclusão que minha obrigação agora é chamar a todas, todos e todes e abraçar campanhas que afirmem a necessidade urgente de vacinas para todas as pessoas. Que ressaltem a necessidade urgente do retorno do auxílio emergencial para essas mulheres que perderam seus empregos, seus familiares e continuam perdendo seus filhos para violência do estado.
A urgência de entender o peso da solidariedade, da empatia, principalmente compreender a internet como nossa grande aliada pra encontrar as ações de enfrentamento a pandemia, sobretudo as organizadas palas mulheres negras, isso quer dizer que novamente vamos precisar organizar a distribuição de cestas básicas, produtos de higiene e limpeza e álcool gel.
Enquanto me pergunto o que Marielle faria, olho todas as ações que estão sendo feitas no lugar onde eu moro e ver onde eu posso colaborar. Talvez a gente não tenha dinheiro pra comprar uma cesta básica, mas você pode comprar um pacote de feijão? Ou tirar um item da sua cesta básica e levar aos postos de arrecadação? Você pode organizar uma campanha se arrecadação com seus amigos e familiares, de produtos de higiene e levar ao presidio feminino por exemplo?
Sim, mas não podemos sair de casa, como fazer? No caminho entre aquela passadinha na casa da sua mãe ou na ida ao mercado você certamente pode dar uma paradinha! Também é um momento de desconsiderar as conveniências em favor do próximo.
É hora de olhar a figura de Marielle Franco e a partir dela nos inspirar a ações concretas, nos colocando em ação. Porque é disso que o momento precisa, uma ação politicamente organizada. Por que as questões que envolvem as desigualdades, a pandemia e os números triplicaram, isso quer dizer que cresceu o contingente de pessoas que vão precisar de ajuda, principalmente porque o desgoverno que estamos vivendo permanece nos trilhos do desmonte de todas as garantias sociais conquistadas pelos brasileiros, inclusive as constitucionais e das possibilidades de crescimento econômico e desenvolvimento social.
Para março o que fica é essa pergunta: O que Marielle faria?
O ano passada ela nos inspirou, nesse ano sua obra e legado, precisam nos vestir de coragem e valentia, para enfrentar o projeto genocida que está em curso nesse país, executado com excelência e requintes de crueldade pelo governo Bolsonaro. Porque com o avanço da pandemia os empregos que eram poucos estão rareando, o sistema de saúde e educação estão desmontados, então esse é o melhor momento para refletir e se colocar à disposição para transformação e impulso as realizações que a figura da Marielle nos impõe.
Desejo que esse mês de março ultrapasse as flores e felicitações que estejamos prontos para ação, assim como seria Marille se estivesse entre nós.
Foto de topo: Bernardo Guerreiro/Mídia Ninja
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