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No STF, a favela perdeu

Fim do julgamento da ADPF das favelas frustra ativistas, que cobram medidas para reduzir a letalidade policial. Ainda nessa edição, como o TikTok fomenta a misoginia entre adolescentes

Imagem propriedade da Brasil de Direitos

Rafael Ciscati

6 min

Ação, conhecida como Adpf das favelas, cobra redução da letalidade policial. Criação de órgãos de perícia autônomos é uma das demandas

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O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu, na quinta-feira (03), o julgamento de uma ação que cobrava medidas para combater a violência da polícia nas favelas fluminenses, a ADPF 635. O resultado do julgamento era aguardado há mais de cinco anos. Sua conclusão frustrou ativistas que atuam em territórios de favela. Várias demandas apresentadas pela sociedade civil não foram atendidas e, na avaliação de defensores e defensoras de direitos humanos, o plano traçado pelo Supremo é insuficiente para proteger vidas.

Para lembrar: a Arguição de Descumprimenro de Preceito Fundamental (ADPF) 635, popularmente conhecida como ADPF das Favelas, chegou ao Supremo em 2019, fruto de uma articulação entre organizações da sociedade civil.

Pedia que o poder público adotasse uma série de medidas para conter a violência da polícia em territórios de favela do Rio de Janeiro. Entre as demandas, que as mortes de civis ocorridas durante operações policiais fossem investigadas por órgãos independentes, sem vínculos com as forças de segurança; que o uso de helicópteros durante operações policiais fosse limitado ao mínimo necessário; e a instalação de câmeras nas viaturas e nas fardas dos soldados.

 

A intenção era aprimorar o controle social sobre a atividade da polícia, de modo a preservar a vida e o bem-estar da população.

Desde 2019, o STF determinou, em caráter provisório, que várias dessas medidas fossem adotadas pelo estado do Rio de Janeiro. Ainda que implementadas de maneira parcial, elas contribuíram para a redução do número de mortes provocadas pela polícia.

Em fevereiro desse ano, o ministro Edson Fachin, relator da ação, votou a favor da manutenção das medidas propostas. Na ocasião, disse que, na segurança do Rio de Janeiro, reinava um “estado de coisas inconstitucional”.

Na votação de quinta-feira, no entanto, o ministro mudou de ideia e de voto. Conforme explica a Ponte Jornalismo, depois de reuniões a portas fechadas com os colegas, Fachin passou a entender que a segurança no Rio de Janeiro está “longe do ideal constitucional”, mas que o estado demonstrou ter assumido um “compromisso significativo” em prol da resolução do problema.

Desidratada
O plano por fim apresentado pelo Supremo ignora ou contraria demandas apresentadas pelas organizações da sociedade civil. Ao jornal O Globo, o sociólogo Fransérgio Goulart, diretor da Iniciativa Direito a Memória e Justiça Racial (Idmjr) lembrou que, segundo a decisão da Corte, a polícia Civil fica responsável pela investigação de homicídios cometidos por policiais. As organizações autoras da Adpf cobravam que esse tipo de apuração ficasse a cargo de um órgão independente.

No Instagram, a organização Complexo Advocacy destaca outros pontos da decisão do STF que, para o grupo, comprometem a segurança dos moradores de favela:

-A Corte negou a solicitação da Adpf que impedia o uso de helicópteros como plataforma de tiros;

-Negou a solicitação para que operações policiais não acontecessem no entorno de escolas;

-Decidiu que protocolos de ação policial continuarão sob sigilo. Esses documentos contêm as diretrizes que orientam o trabalho dos policiais. No Rio de Janeiro, eles não são públicos.

Por fim, o STF determinou a criação de um plano de reocupação territorial de áreas sob o domínio de facções criminosas. “Solicitamos um plano de redução da letalidade policial. O STF encomendou um plano de ocupação territoral para as favelas”, escreveu a Idmjr no Instagram.

A violência pelo olhar das crianças

Cena do filme Cartas pela Paz. Produção fala sobre violência policial pelo olhar das crianças (Reprodução)

Cena do filme Cartas pela Paz. Produção fala sobre violência policial pelo olhar das crianças (Reprodução)

Ainda no tema da violência policial, o festival É tudo Verdade, de cinema documental, exibe o curta Cartas pela Paz. O filme narra cartas escritas por crianças do Complexo da Maré e da Cidade de Deus aos ministros do STF. Nas missivas, as crianças falam sobre o terror provocado pelas operações policiais.

O curta foi gravado em 2023. À Agência Brasil, Thays Acaiabe, uma das diretoras, contou que a intenção primeira do filme era sensibilizar a Corte – que, então, julgava a ADP 635 – sobre o impacto da violência policial nas favelas fluminenses.

“Neste momento, dá um medo. O coração começa a bater rápido, frio na barriga, um desespero e pânico. Então, fizemos o que minha mãe ensina. Trancamos a porta e ficamos abaixados na parte da casa que tem mais paredes para nos proteger dos possíveis tiros”, conta um dos relatos.

O festival É tudo Verdade acontece até o dia 13 de abril nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. No Rio, Cartas pela paz tem sessões nos dias 07 e 10 de abril. Em São Paulo, será exibido no dia 08, na Cinemateca Brasileira.

Misoginia na rede

O TikTok alimenta a misoginia — o ódio e o desprezo pelas mulheres — entre adolescentes. O Núcleo Jornalismo e a revista Azmina monitoraram vídeos publicados na rede social ao longo de dois meses. Para isso, criaram dois perfis de adolescentes fictícios: João e Kaio, com 15 e 14 anos respectivamente. Perceberam que, à medida que os perfis interagiam com os conteúdos da rede, o teor das postagens sugeridas pelo algoritmo mudava. De início, tinham caráter motivacional e religioso; aos poucos, passaram a promover discursos que reforçam estereótipos de gênero e desvalorizam meninas e mulheres.

“Dados da SaferNet, organização que atua na defesa dos direitos humanos na internet, confirmam o potencial misógino da plataforma. O TikTok está entre os 10 domínios online mais denunciados no mundo por violência ou discriminação contra mulheres desde 2020, ocupando o primeiro lugar em 2021 e 2022” escreve a reportagem.

Uma contribuição de Ação, conhecida como Adpf das favelas, cobra redução da letalidade policial. Criação de órgãos de perícia autônomos é uma das demandas

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