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Os 20 anos da morte de Dorothy Stang e a resistência da capoeira na periferia de Salvador

Freira norte-americana, Dorothy Stang trabalhou em defesa da Amazônia e de seus povos. Foi morta por grileiros

Imagem propriedade da Brasil de Direitos

Rafael Ciscati

5 min

A freira norte-ameriana Dorothy Stang, assassinada há 20 anos (Divulgação: CPT)

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“Você pode ajudar quem depende da floresta?”

Vinte anos atrás, a freira norte-americana Dorothy Stang foi assassinada por grileiros nas cercanias de Anapu, cidade a pouco mais de 300km de Belém, no Pará.

Nascida em uma família numerosa (ela tinha oito irmãos), no estado americano de Ohio, irmã Dorothy chegara à Amazônia brasileira no início dos anos 1970.

Era um tempo em que a ditadura militar tratava a região como um imenso “vazio demográfico”, que precisava ser povoado para evitar que caísse sob controle estrangeiro. Sob slogans como “integrar para não entregar” e “terras sem homens para homens sem terra”, o regime abriu estradas no meio da floresta, massacrou povos indígenas e incentivou a migração de agricultores pobres para as cercanias da rodovia Transamazônica.

De início, o deslocamento dos colonos ficou a cargo do próprio Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Ao longo dos anos 1970 e 1980, no entanto, famílias inteiras migrariam por conta própria, confiando na promessa de que encontrariam trabalho. Foi essa a dinâmica mais comum na região de Anapu, onde Dorothy se instalou em 1982.

“Sem ter para onde ir, [os migrantes] eram levados a uma casinha de madeira, pintada e verde-água, onde seriam acolhidos com comida e lugar para atar as redes. Naquela casa morava irmã Dorothy”, escreve Felício Pontes Jr, do jornal Resistência.

O legado de Dorothy Stang é tema de uma edição especial da publicação, mantida há quase 50 anos pela Sociedade Paraense de Direitos Humanos. O jornal lembra como a freira, preocupada com a educação das crianças, criou cursos de formação de professores e ajudou a construir escolas. Junto de lideranças locais, organizou os trabalhadores rurais em associações. Na década de 1990, participou da criação do Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS), um tipo de assentamento rural que aliava as necessidades da reforma agrária ao manejo sustentável da floresta.

O trabalho para ampliar o projeto colocou irmã Dorothy na mira de fazendeiros locais, que grilavam (se apossavam ilegalmente) terras públicas. Ela pediu proteção às autoridades policiais, mas não foi ouvida. Foi assassinada num sábado, 12 de fevereiro de 2005, a caminho de uma reunião com famílias do PDS Esperança.

A casa onde irmã Dorothy Stang morava, em Anapu (foto: Agência Brasil)

A casa onde irmã Dorothy Stang morava, em Anapu (foto: Agência Brasil)

Duas décadas depois de sua morte, o Nexo Jornal mostra como os PDS apoiados por Dorothy enfrentam o avanço do desmatamento, de garimpeiros e grileiros. E a Agência Pública conta como, nos últimos 20 anos, 21 pessoas foram assassinadas em Anapu em conflitos envolvendo disputas por terras. Suas mortes seguem impunes.

Numa postagem no Linkedin, Nilo D’Ávila, da ONG ambientalista Greenpeace, lembrou das conversas que tinha com a freira, sempre comprometida com a proteção da Amazônia e de seus povos. “Suas conversas eram rápidas, diretas, e sempre terminavam com um aviso: ‘Enviei mais uma denúncia para o Ibama… Você pode ajudar quem depende da floresta?’”.

Para inspirar

Há mais de 20 anos, a Associação de Capoeira Os Bambas do Sol Nascente funciona como um refúgio para crianças e adolecentes que vivem na comunidade do Uruguai, em Salvador. Além de ensinar a prática, a associação mantém uma cozinha comunitária e organiza rodas de conversa com a vizinhança. Os mestres também acompanham o desempenho das crianças na escola: “Se o aluno perde de ano, ele é rebaixado de corda. Isso cria um compromisso e uma disciplina”, conta Brenda Gomes, da newsletter Entre Becos.

Para refletir

O compartilhamento de informações falsas, enganosas ou retiradas de contexto foi considerado o maior risco para a humanidade em 2025, de acordo com uma pesquisa que ouviu líderes empresariais, de governos e da sociedade civil. No ranking de “riscos de curto prazo” (aqueles que devem ameaçar a humanidade já pelos próximos dois anos), a desinformação preocupa mais do que os eventos climáticos extremos e os conflitos armados — que ocupam, respectivamente, a segunda e a terceira posições.

Neste artigo, os pesquisadores Marco Schneider, Myllena Diniz e Taís Seibt refletem sobre como a desinformação vem sendo utilizada como arma política pela extrema direita e como fonte de receita pelas grandes empresas de tecnologia que controlam as redes sociais digitais. As saídas para o problema, escrevem, passam pela regulação das redes e por investimentos em educação midiática.

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