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Para combater o feminicídio é preciso mudar mentalidade machista e patriarcal

O estado do Acre desponta como um daqueles que mais mata mulheres por razões de gênero. Associação de Mulheres Negras cria jornada de debates e formação para mudar cenário

Almerinda Cunha

4 min

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No Acre, a violência contra a mulher assumiu as feições de uma endemia. Hoje, o estado desponta como um dos campeões no ranking de feminicídios no país. As estatísticas contam que, em 2020,a cada 100 mil mulheres acreanas, 2,7 foram mortas por razões de gênero. É mais que o dobro do registrado, em média, no restante do Brasil. 

Feminicídio é um tipo específico de assassinato. Trata-se de um qualificador do crime de homicídio e refere-se aos casos em que as vítimas são mortas simplesmente por serem mulheres. O quadro é pior para as mulheres negras. Segundo dados do Ministério Público do Acre, 89% das vítimas de feminicídio no estado são mulheres negras.

>>Com oficina de beleza negra, associação trabalha autoestima e politização 


Esses assassinatos são reflexo de uma cultura machista, patriarcal e racista. O que fazer diante de algo tão cruel? Na Associação de Mulheres Negras do Acre (AMN) entendemos que é preciso combater ideias atrasadas com ideias novas. Queremos desconstruir conceitos nefastos, que promovem a morte de mulheres, e substituí-los por novas ideias baseadas na equidade de gênero e igualdade racial.

>>Num dos estados que mais mata mulheres, uma ativista sob ameaça

Foi para promover essa mudança que criamos a Jornada de Formação em Gênero e Raça. Trata-se de um projeto  para o enfrentamento ao racismo, machismo, feminicídio e genocídio da População Negra. Nesses encontros, queremos fazer a sociedade refletir coletivamente de onde vem tanta violência contra a mulher, negros, contra a população LGBTQIA+, e outros grupos da população que são vítimas preferencias da violência letal. 

>>O que é feminicídio

A Jornada é uma das atividades da Campanha de combate às violências contra a mulher e ao Feminicídio. No âmbito da campanha, já desenvolvemos outras atividades, como uma audiência pública em parceria com o Ministério Público do Acre, e encontros ecumênicos. 

Nesse processo, entendemos que debater — e combater — o racismo é um ponto-chave. Se o racismo é estrutural, quais as consequências disso? Como ele é transmitido e reproduzido nas instituições, conduzindo a exclusão e morte do povo negro? A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil. 

Nas reflexões coletivas dentro da Jornada percebemos como as mulheres desconhecem as causas das violências, e como, por vezes, reproduzem de forma inconsciente o machismo e a valorização do patriarcado. Não há uma consciência coletiva das várias formas de violência, e muitas ainda não reconhecem viver na zona de risco. Juntas, trabalhamos para essa tomada de consciência.

A reflexão aborda, também, a inexistência ou falha na rede de atendimento e proteção às mulheres e a escassez de recursos para efetivação das políticas para as mulheres. Essa situação foi denunciada na audiência pública que realizamos sobre o Feminicídio.
A divisão sexual do trabalho é pensada numa nova perspectiva de novo modelo familiar onde ambos são provedores. Sendo a maioria das famílias sustentadas por mulheres.

A Jornada busca questionar e envolver toda sociedade na busca de uma solução para combater a violência, mostrando de onde vêm as ideias que levam à objetificação da mulher, ao pátrio poder do homem. Para que haja essa desconstrução, é necessário se abrir para o debate e a reflexão num ambiente propício à aprendizagem.

Nesse sentido oferecemos uma exposição dos conceitos: racismo, machismo, feminicídio, misoginia, patriarcado, genocídio, preconceito, discriminação.  E apresentamos marcos regulatórios: o Estatuto da Igualdade Racial, Lei 10.639/2003, Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), Lei Maria da Penha e outros.       

Depois vamos para o debate e depoimentos. Seguido de trabalho em grupo e apresentação das contribuições dos grupos. Na socialização dos grupos caminhamos para a construção de encaminhamentos sobre o que podemos fazer enquanto sociedade e o que eu posso fazer individualmente para coibir o racismo, o machismo e as violências.

Pelas jornadas realizadas podemos afirmar que está sendo produtivo.

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