Para Jurema Werneck, é preciso estimular o diálogo sobre direitos humanos
Segundo a diretora da Anistia Internacional no Brasil, falta uma mudança estrutural no país para que se crie uma cultura de direitos
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“As pessoas sensíveis para as causas dos direitos humanos devem atuar no sentido de estar prontas para lidar com a diferença, abertas ao diálogo respeitoso, disponíveis à fala e à escuta”. A frase é de Jurema Werneck, uma forte voz da resistência contra as violações de direitos humanos no Brasil.
Graduada em medicina, mestre em engenharia de produção e doutora em comunicação e cultura, ela é diretora-executiva da Anistia Internacional no Brasil. É fundadora da ONG Criola e presidenta do Conselho de Administração do Fundo Brasil de Direitos Humanos.
Nessa conversa com a Plataforma Brasil de Direitos, Werneck defende que é importante circular informações e estimular o debate sobre direitos humanos, de modo a criar uma sociedade capaz de defende-los
No momento em que vivemos, é possível combater os discursos de ódio? Quais são os caminhos para fazer isso?
Jurema Werneck: É possível. O principal caminho é o diálogo, baseado no respeito mútuo e na defesa incansável dos princípios que são a base de uma sociedade de direitos; na promoção de um mundo mais justo a partir da ação positiva do ativismo por direitos humanos; e na certeza de que todas e todos fazem parte deste mundo, sem discriminação de qualquer tipo.
As redes sociais contribuem ou atrapalham esse diálogo sobre direitos humanos?
As redes sociais são um instrumento de comunicação que, em si, não contribuem nem atrapalham as tentativas de diálogo sobre direitos humanos. Elas apenas refletem um cenário de aceleração da comunicação e de polarização que não colabora para o diálogo e para o debate de ideias sobre temas fundamentais para a sociedade brasileira.
Apesar do contexto complicado, existem pessoas sensíveis para as causas dos direitos humanos. Como elas podem atuar para conquistar mais apoio?
As pessoas sensíveis para as causas dos direitos humanos devem atuar no sentido de estar prontas para lidar com a diferença, abertas ao diálogo respeitoso, disponíveis à fala e à escuta. Assim, podemos criar um outro contexto possível para a troca de ideias que caminhem para mudanças de opinião. Não é tarefa fácil e nem de curto prazo, mas necessária para conquistar apoio aos direitos humanos.
Você enfrenta no dia a dia as dificuldades de defender os direitos humanos para todas e todos. Como lida com os discursos contrários e até raivosos?
Diariamente, tentamos compreender o que leva a uma parte da sociedade brasileira a se posicionar contra os direitos humanos. É possível que o ambiente de desigualdade em que vivemos — que não permite que a maioria da população experimente em sua vida cotidiana direitos, enquanto uma minoria tem acesso a eles como privilégios — não ajude. Acreditamos que mudanças estruturais na sociedade brasileira são necessárias para criar uma cultura de direitos, e para isso é importante que as pessoas possam experimentá-los na vida prática e cotidiana. Ou seja, é preciso garantir o acesso a direitos como saúde, educação, moradia, e tantos outros. Mais do que isso, temos que circular informações, experiências, exemplos e mensagens capazes de ajudar a criar uma sociedade que esteja preparada para defender os direitos humanos. Como em nosso lema aqui na Anistia Internacional: que a defesa dos direitos humanos seja um compromisso pessoal. E, assim, de todas e todos. Seguimos em frente neste desafio permanente.
FOTO: Fundo Brasil
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