Garantia do Estado de Direito
Iniciativa reúne organizações atuantes em 21 estados brasileiros. Segundo Paulo Carbonari, coodenador do projeto, objetivo é fortalecer mecanismos de proteção a ativistas.

Garantia do Estado de Direito
Projeto Sementes: organizações se unem para aprimorar proteção a defensores
Iniciativa reúne organizações atuantes em 21 estados brasileiros. Segundo Paulo Carbonari, coodenador do projeto, objetivo é fortalecer mecanismos de proteção a ativistas.
Grupos atuantes em 21 estados brasileiros se uniram em uma iniciativa destinada a fortalecer a proteção de defensoras e defensores de direitos humanos. Lançado ao público na segunda-feira (6), o projeto Sementes de Proteção organiza pesquisas, oficinas, atividades de formação e de pressão política. A intenção é habilitar as organizações de defesa de direitos a atuar para garantir a proteção de seus ativistas — e para cobrar ações do poder público. Hoje, o Brasil se destaca como um dos países mais letais para a atuação desses grupos: segundo levantamento realizado pela ONG Frontline Defenders em 2020, somos o 6º país que mais mata ativistas em todo o planeta.
A iniciativa é encabeçada por quatro organizações: o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) e a Fundação We World – GVC ONLUS (WW-GVC), e conta com financiamento da União Europeia. Segundo Paulo César Carbonari, da MNDH e coordenador do projeto, as atividades trabalham com o conceito de “proteção popular”: “A sociedade civil atua na defesa e proteção de ativistas desde sempre. Mas, muitas vezes, esses conhecimentos se perdem. Queremos recuperá-los”, conta.
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Apesar de ter sido divulgado ao público somente agora, as atividades do projeto começaram em março deste ano, e devem seguir por 36 meses. Carbonari explica que o projeto inclui alguns objetivos importantes: o de recuperar conhecimentos e estratégias de proteção que caíram no esquecimento; habilitar as organizações a fazer análises de conjuntura, de modo a identificar riscos em potencial; e prepará-las para desenhar planos de proteção adequados a cada situação. “As ações necessárias variam a cada caso. Às vezes, para garantir a segurança dos defensores, é necessário instalar uma câmera na sede da organização. Às vezes, o essencial é afastar o ativista da situação de perigo”, afirma. “Queremos que os grupos estejam aptos a fazer esse tipo de leitura”.
Esse preparo inclui, ainda, as habilidades para cobrar ações do poder público e de entes privados. Carbonari explica que o grupo pretende trabalhar no desenho de metodologias que permitam às organizações qualificar suas denúncias. “Queremos mostrar [ ao apresentar uma denúncia] quem lucra com as violações de direitos que são apontadas. Isso não trivial”, afirma.
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Além disso, a iniciativa também prevê a realização de apoios em caráter emergencial, para proteger defensores sob ameaça iminente. Para acessar essa modalidade de auxílio, é preciso entrar em contato com as organizações parceiras do projeto e que atuam localmente. A lista de parceiras pode ser consultada no site do Sementes de Proteção.
Na avaliação de Galdene Santos coordenadora-geral do Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) da Serra, no Espírito Santo, esse tipo de articulação é especialmente relevante para aqueles estados que não contam com programas estaduais de proteção a defensores — caso do Espírito Santo. “Nos últimos anos, a gente viu os conflitos se acirrarem”, afirma. “Os programas de proteção a defensores têm um alcance limitado. Ainda assim, queremos cobrar que eles sejam fortalecidos pelo governo”, afirma.
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Uma avaliação feita no final de 2020 pelo Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de direitos humanos mostrou que a Política Nacional de Proteção a esses ativistas sofre de fragilidades. Entre elas, a abrangência restrita — não há atuação no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo. Carbonari ressalta que uma das ações do projeto será cobrar o aprimoramento de políticas públicas como essa.
Cultura antidireitos
Na avaliação dele, há uma cultura em voga no país que retrata o trabalho de ativistas como negativo. “Desde a ditadura militar, somos associados à pecha de ‘defensores de criminosos’”, afirma. A imagem fragiliza o trabalho de grupos e ativistas, e aumenta sua insegurança. “Se você parte de uma percepção de que a sua atuação não é bem-vinda, aumentam as chances de atos de violência serem legitimados”.
Entre as ambições do projeto para os próximos anos, ele destaca a realização de uma pesquisa para avaliar a percepção da sociedade brasileira em relação à defesa de direitos humanos, e a condução de ações para mudar essa cultura. “Temos o desafio de desfazer um modo de entender direitos humanos que está entranhado na consciência popular”, afirma.
Já para 2022, o grupo estuda como preparar as organizações para responder ao potencial acirramento de tensões que deve acompanhar a corrida eleitoral. “O projeto não é uma resposta às eleições, mas estará atento a isso”.
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