‘De perto, realidade de Manaus é cenário de guerra’, diz liderança indígena
Coordenadora da COIAB, Nara Baré explica iniciativa para garantir oxigênio e alimentos a esses povos na Amazônia
5 min
Navegue por tópicos
por Fundo Brasil de Direitos Humanos
Os meios de comunicação vêm noticiando amplamente a situação caótica em Manaus, capital do estado do Amazonas, diante do colapso do sistema de saúde local e da escassez de oxigênio para atender às demandas dos hospitais. Enquanto a população tenta, por conta própria, conseguir os cilindros para acudir familiares hospitalizados, pessoas estão, literalmente, morrendo sem respirar.
Vista e vivida de perto, no entanto, a situação é ainda mais desesperadora.
“Diante de tudo o que estamos acompanhando nos meios de comunicação, afirmo: a realidade de Manaus é muito pior. O cenário é de guerra em busca de um elemento essencial, o oxigênio. Precisamos evitar a todo custo que isso se espalhe mais”, disse Nara Baré, coordenadora geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB).
A COIAB reúne organizações indígenas de base de nove estados da Amazônia brasileira. Desde março do ano passado, quando a Covid-19 chegou ao país, a COIAB e sua rede colocam em prática o Plano de Ação Emergencial de Combate ao Avanço do Coronavírus e de Tratamento entre os Povos Indígenas da Amazônia Brasileira.
Trata-se de um conjunto integrado de ações, estrategicamente pensadas para atender especificamente a vulnerabilidade dos povos indígenas. Graças a esse plano, mais de 40 mil pessoas indígenas receberam assistência contra a pandemia em vários territórios da Amazônia. Foram distribuídos itens de proteção individual (máscaras), cestas básicas, kits de higiene e limpeza, equipamentos de caça, pesca e roça para a subsistência nas aldeias.
As ações também garantiram deslocamento e retorno às aldeias, exames médicos, apoio para realização de funerais, apoios jurídicos, barreiras sanitárias em áreas de fronteiras com outros países, além de cartazes, folders, podcasts, traduções de informativos em línguas indígenas, vídeos sobre prevenção e cuidados, e ações voltadas jovens, mulheres e idosos indígenas, com o objetivo maior de salvar vidas.
Mas agora, com o agravamento da situação, há novas ameaças a serem enfrentadas para evitar mais mortes indígenas, segundo a coordenadora da COIAB, Nara Baré.
“Nosso desafio é evitar que o vírus se espalhe ainda mais entre os povos indígenas. Há relatos de reinfecção nas aldeias. E há essa nova variação do vírus. A situação é de emergência máxima”, ela alerta.
Segundo a plataforma Covid-19 e os Povos Indígenas, que inclui um contador independente de casos e óbitos pela doença, 46,5 mil indígenas foram diagnosticados com Covid-19 desde o início da pandemia, em um total de 161 povos afetados. As mortes somam mais de 920. Especificamente na Amazônia, de acordo com a COIAB, são 130 povos atingidos e 30 mil casos.
Ampliar a ajuda. A COIAB acaba de lançar uma campanha específica para socorrer os povos indígenas diante da segunda onda da pandemia. A organização está aceitando doações de insumos, suprimentos, apoio logístico e financeiro. Segundo Nara Baré, o objetivo é ajudar 400 mil pessoas em nove estados na região Amazônica.
“São seis eixos de ações estratégicas para evitar que a Covid-19 faça ainda mais vítimas entre os indígenas”, disse a coordenadora da COIAB. “Esses eixos são vacinação para 100% da população indígena em território nacional, barreiras sanitárias e Unidades de Atendimento Primário Indígena (UAPIs), fornecimento de equipamentos de proteção individual, aquisição de insumos hospitalares e de cilindros de oxigênio para as Casas de Saúde Indígena, continuação do apoio para alimentação e kits de higiene e apoio logístico – combustível e fretes fluvial, aéreo e terrestre.”
Em um primeiro momento, a entidade aponta que são necessários pelo menos três cilindros de oxigênio para cada uma das 58 Casas de Saúde Indígena (Casais), em um total de 174 cilindros, e 2 mil cestas básicas para alimentar emergencialmente famílias indígenas de Manaus.
“As doações são indispensáveis para manutenção também das equipes que garantem a distribuição de toda essa ajuda humanitária”, disse Nara. A meta global de arrecadação é de 6 milhões de reais.
O Fundo Brasil de Direitos Humanos uniu esforços com a COIAB para captar recursos para a emergência, e criou o Fundo de Apoio Emergencial: Covid-19 – Emergência Amazônia.
Para saber mais e fazer uma doação, basta acessar a página da campanha neste link.
“É difícil saber qual é o prazo dessa campanha”, finalizou Nara Baré. “Porque ainda teremos de pensar no pós-pandemia, dar atenção às sequelas emocionais, físicas, espirituais de tudo isso”, concluiu.
Você vai gostar também:
Cis e trans: qual a diferença dos termos?
3 min
Saiba o que pode e o que não pode em uma abordagem policial
19 min
4 escritoras lésbicas brasileiras que você precisa conhecer
3 min
Entrevista
Ver maisMarielle: como a violência política contra a mulher cresceu desde o assassinato da vereadora
8 min
Com acordo em Alcântara, Estado se antecipa à condenação internacional, diz ativista
9 min
Glossário
Ver maisConsciência negra: qual a origem da data celebrada em 20 de novembro
6 min
Abdias Nascimento: quem foi o artista e ativista do movimento negro
8 min