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Violência contra candidatas negras vai de ataque virtual a agressões físicas

Segundo pesquisa do Instituto Marielle Franco, somente uma minoria — 32% — denuncia as agressões. Maioria não se sente segura

Rafael Ciscati

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Xingamentos racistas, ataques coordenados em redes sociais, ofensas de caráter religioso, agressões físicas e a falta de apoio de membros do próprio partido: dados preliminares de uma pesquisa realizada pelo Instituto Marielle Franco, e divulgados nesta sexta-feira (6), traçam um painel dos muitos desafio e ameaças enfrentados pelas mulheres negras que concorrem às eleições municipais em 2020. A pesquisa reúne os relatos de  142 mulheres negras que se lançaram candidatas, e foi realizada em parceria com as organizações de defesa dos direitos humanos Justiça Global e Terra de Direitos. Os dados foram coletados anonimamente. A imensa maioria das participantes  — 98% — relatou ter sofrido algum tipo de violência durante o pleito deste ano. Agressões que, muitas vezes, escampam às estatísticas oficiais: a maioria das vítimas, de acordo com a pesquisa, não denunciou a violência sofrida. Algumas, 17% delas, não o fizeram por medo.

Em 2020, os casos de agressão mais recorrentes foram aqueles que aconteceram online. Segundo o levantamento, 78% das candidatas negras que responderam à pesquisa foram alvo de ofensas racistas em suas redes sociais durante a campanha. Houve também casos de ataques sofridos durante transmissões ao vivo. A maioria dos agressores (45%) foram indivíduos ou grupos desconhecidos. Mas há situações em que os ataques partem de outros candidatos: elas perfazem 4,6% do total de relatos.

Além disso, cinco em cada dez candidatas disseram ter sofrido algum tipo de violência institucional. São casos de ofensas perpetradas por membros de seus próprios partidos, ou episódios de discriminação em órgãos da justiça eleitoral. Nessa categoria, há relatos que dão conta da falta de apoio oferecido pelas legendas: 33% das entrevistadas avaliam ter recebido menos recursos para campanha do que consideram adequado, e 12% delas disse não ter recebido recurso algum.

Quase metade das entrevistadas – 42% – disse ainda ter sido alvo de alguma modalidade de violência física. Os dados preliminares não trazem detalhes sobre a natureza dessas agressões.

O cenário desenhado pela pesquisa é confirmado por levantamentos anteriores. Em setembro, a Terra de Direitos e a Justiça Global divulgaram os resultados do seu mapeamento sobre violência política e eleitoral no Brasil. O estudo reuniu casos relatados na imprensa entre janeiro de 2016 e setembro de 2020. Constatou que, mesmo sendo minoria entre políticos eleitos e candidatos, as mulheres costumam ser alvo preferencial de agressões: mulheres são  13% dos políticos eleitos nos legislativos municipal, estadual e federal. Ainda assim, representam 31% das vítimas de ameaças.

A nova pesquisa sugere que, apesar de a violência ser recorrente, são raras as ações para coibi-la: 17% das entrevistadas relataram ter medo de denunciar as agressões sofridas. Entre as que denunciaram, 70% avaliam que encaminhar o caso às autoridades não lhes garantiu maior segurança pra desempenhar suas atividades politicas.

O levantamento do Instituto Marielle Franco ouviu candidatas que concorrem por 16 diferentes partidos — a maioria, partidos de esquerda ou centro-esquerda. Quase 30% delas se declararam LGBTI+, e 69% nasceram em favelas e periferias urbanas. O instituto espera publicar a versão integral da pesquisa antes do segundo turno das eleições municipais.

FOTO: Mídia Ninja

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